Onde anda esta gentinha com a cabeça???

Hoje, divagando aqui pela blogosfera tropecei na crónica que o Sr José António Saraiva escreve no jornal 'Sol', se tiverem tempo podem ler aqui .
Fiquei doente... o senhor não pode estar muito bem da cabeça, mas pior ainda deve estar quem autorizou que semelhante texto fosse publicado.
Dediquei algum do meu tempo a ler algumas das respostas e comentários que lhe fizeram directamente na edição on-line do 'Sol', mas adorei esta resposta :


Huguini11.04.2012 - 16:06

Crónica do jovem que ia no elevador com o José António Saraiva.

À minha frente, no elevador, está um velhote dos seus 64 ou 65 anos. Pelo modo como olha de forma reprovadora, fala sobre o tio que foi ministro de Salazar e debita preconceitos, percebo que é fascista.

Estamos no edifício da FNAC do Chiado. Frequento aquela zona e, pelo menos duas vezes por dia, subo e desço a Rua Garrett. Frequentemente, por comodidade, utilizo o elevador da FNAC: é uma forma prática de ir da Baixa para o Chiado e vice-versa.

Em todas as grandes cidades do mundo há lugares preferidos pelas comunidades fascista. Não sei as razões que conduzem a essas escolhas, mas muitos guias turísticos já as referem. O Chiado é, em Lisboa, uma dessas zonas – e, de facto, cruzamo-nos aí constantemente com ‘jornalistas’ de opinião e sobretudo ‘jornalistas’ de polémica de todas as idades.

Julgo ser um facto notório que a comunidade fascista está a crescer. Há quem afirme que não é assim – e o que se passa é que os fascistas têm cada vez menos receio de se assumirem, cada vez menos receio de revelarem as suas inclinações, tendo orgulho (e não vergonha) de serem como são.

Talvez esta explicação seja parcialmente verdadeira.

Mas, se for assim, é natural que o número de fascistas esteja mesmo a crescer. O assumir de ideias retrogradas por parte de figuras públicas acabará forçosamente por ter um efeito multiplicador, pois funciona como propaganda.

Até há uma geração o fascismo era reprimido socialmente, pelo que muitos jovens com inclinações fascistas teriam pejo de se assumir – acabando alguns por se filiar no CDS ou PSD para afastar eventuais suspeitas. Conheço vários exemplos desses:

casos de homens fascistas e mulheres fascistas que se filiaram no CDS, vindo mais tarde a colar cartazes do PNR.

Ora hoje passa-se o contrário: alguns jovens que não têm inclinações evidentes acabam por ser atraídos pelo mistério que ainda rodeia a fascismo e pelo fenómeno de moda que ele assumiu em determinados sectores. Não duvido de que há fascistas que nascem fascistas. Mas também há fascistas que se tornam fascistas – por influência de amigos, por pressão do meio em que se movem (no ambiente da moda isso é claro), e por outra razão que explicarei adiante e me levou a escrever este artigo.

Ao olhar esse cota que ia à minha frente no elevador, pensei: será que há 20 anos ou 30 anos ele teria a mesma atitude, assumiria tão ostensivamente a sua inclinação? E, indo mais longe, se ele tivesse sido jovem nessa altura seria fascista?

Tive dúvidas. Ao observar aquele velhote tive a percepção clara de que a sua forma de estar, assumindo tão evidentemente o fascismo, correspondia a uma atitude de revolta.

Durante séculos, os filhos seguiram submissamente as orientações dos pais em matéria de valores e política. Às vezes contrariados, mas seguiam. Havia famílias de diplomatas, de advogados, de arquitectos, de empresários, de comerciantes, de carpinteiros, de padeiros, de
trabalhadores rurais.

Mas nos anos 30 dá-se na sociedade portuguesa uma alteração que mudaria o país. É a geração do Tarrafal, de Fátima, Família e Fado, da PIDE, do medo de falar e da contestação, - do fascismo em geral.

O termo ‘fascista’ entrou na linguagem comum. As palavras ‘reaccionário’, ‘conservador’, ‘retrógrado’, etc. deixaram de ter uma conotação negativa e passaram a ser vistas como elogios. E não se tratava apenas de um fenómeno europeu.

Uns anos depois, do lado de lá do Atlântico, filmes como Dirty Harry (A Fúria da Razão), de Don Siegel, faziam furor – e Clint Eastwood, o protagonista, tornava-se o ícone de uma geração ‘conservador’ com ‘valores’ bem definidos.

Nessa época, um jovem que não fosse reaccionário não estava bem dentro do seu tempo.

Pertenço a essa geração em que muitos jovens da minha idade estavam em guerra aberta com a família. Eu tinha amigos fascistas, que andavam a pintar paredes com frases a favor de Salazar e da saída dos “pretos” de Portugal, ou em reuniões clandestinas contra a democracia, cujos pais tinham lugares de confiança no regime democrático.

Houve conflitos tremendos entre pais e filhos. Os filhos, funcionários exemplares, presidentes de Câmara, directores-gerais, militares de elevada patente, etc., sofriam horrores com a mentalidade retrógrada dos pais que desprezavam manifestações, gozavam com os sindicatos e às vezes soltavam gases em público.

Em 1994, era o meu tio Zé Tó, porteiro do Alcântara, eu estava envolvido na luta académica contra as Provas Globais. E pouco depois o meu irmão mais velho foi preso e julgado por ‘actividades anti-democráticas‘– e quem o defendeu, num acto de grande coragem e dignidade, foi ainda o meu tio Zé Tó, que era então porteiro.

Acrescente-se que muitos dos jornalistas que hoje estão no activo andaram envolvidos em actividades retrógradas. O caso de José António Saraiva, que dirigiu o Expresso, é o mais conhecido mas não é o único.

Nos dias que correm, todas essas ilusões reaccionárias morreram ou estão em vias de extinção. O fim do Estado Novo, a morte de Salazar ou a criação da NATO, tudo isso fez com que certos mitos desabassem e nascessem outras formas de recusa do modelo de sociedade em que vivemos.

Ora uma delas é o fascismo. Para alguns velhos, o fascismo surge como uma forma de mostrar a sua ‘diferença’, de manifestar a sua recusa de uma sociedade progressista, de lutar contra a hipocrisia daqueles que têm coragem de se mostrar como são, de demonstrar desprezo com aqueles que são discriminados ou perseguidos pelas suas opções.

Ser fascista, para muitos idosos, é tudo isto. É uma forma de insubmissão. E, está claro, é um desafio aos jovens. Se antes os velhos desafiavam os filhos tornando-se ‘senis’, hoje desafiam-nos escrevendo colunas de ’opinão’ e mostrando-lhes que há outras formas de fazer polémica e até de ganhar dinheiro com isso. Aliás, assumir-se como fascista talvez seja, por muitas razões, o maior desafio que um velho pode fazer aos jovens.

Todas as gerações, desde esses idos de 60, tiveram os seus sinais exteriores de fascismo. Foram os chibos, as piadas misóginas, a oposição à entrada de estrangeiros, o cabelo à Salazar, os posters de Hitler colados na parede do quarto.

Ora a exposição do fascismo é hoje uma delas. E a opção fascista é uma forma de negação radical: porque rejeita a relação pessoa-pessoa, ou seja, o acto que assegura o respeito pelos outros. Nas relações fascistas há um niilismo assumido, uma ausência de utilidade, uma recusa do futuro. Impera a ideia de que tudo se consome numa geração – e que o amanhã não existe. De resto, o uso de clichés, a fuga da razão e do pensamento, vão no mesmo sentido em direcção à irrelevância.

O fenómeno do fascismo como forma de contestação deste modelo de sociedade em que vivemos, de afirmação radical de uma diferença – enquadrada num fenómeno reaccionário iniciado nos anos 30 –, nunca foi abordado.

Mas olhando para aquele velhote que ia à minha frente no elevador da FNAC, percebi que era isso que o movia quando fazia uma pose ostensivamente nazi. Ele dizia aos companheiros de elevador: «Eu sou diferente, eu não sou como vocês, eu recuso que esta sociedade mude, eu assumo-me fascista».https://www.facebook.com/hugo.alves/posts/10150710400544487

Comentários

  1. vi que visitaste o meu blogue. Podes dar-me só receita do iogurte de Nutela? ^_^

    Beijinhos

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